17 de setembro de 2013

Test-Drive - Moto Guzzi California 1400 Custom




Obra-de-arte!


Não existem dúvidas, a California, nas suas mais variadas gerações, tem sido ao longo de décadas o porta-estandarte da Moto-Guzzi.

Tudo começou no fim da década de sessenta quando nos Estados Unidos da América, a Moto Guzzi concorreu e venceu o concurso destinado a motorizar a Policia de Los Angeles, a célebre “LAPD” batendo, sem apelo nem agravo, a “todo-poderosa” Harley-Davidson!

Assim e durante muitos anos ficaram famosas as imagens dos polícias da cidade dos “anjos”, conduzindo as suas potentes Moto Guzzi California, apesar da “azia” dos defensores da marca de motos “caseira”, símbolo de um país e símbolo inquestionável do “American way of life”.

Mais de quatro décadas depois, eis que a marca italiana, volta a surpreender com a apresentação da California 1400, que se apresenta em duas versões distintas, a Touring e a Custom. 


E tal como a primeira California, também este novo modelo arrasou… e adivinhem onde?
Novamente no outro lado do Atlântico, onde foi considerada pela afamada “Cycle World”, uma das dez melhores motos do ano, vencendo a categoria “Cruiser”, batendo mais uma vez, entre outras marcas, a… Harley-Davidson!

A Moto Guzzi California 1400 Custom, não passa despercebida!


Durante os dias em que circulei por aí com esta Custom, perdi a conta as vezes em que fui abordado, fosse em andamento por outros motociclistas e até mesmo automobilistas, mas também por “resmas” de pessoas, incluindo muitos estrangeiros, sempre que parava a moto, principalmente quando pretendia efetuar as fotografias que ilustram este test-drive. Todos queriam fotografar a California e muitos quiseram ser fotografados montados nesta Guzzi do século XXI.

Observando-a com atenção vamos encontrar alguns, poucos, “vestígios” inovadores, já vistos noutra moto, também ela italiana e que, apesar de pertencer a um “campeonato diferente”, tem em comum o mesmo designer. 

Falo precisamente da Ducati Diável e do argentino Miguel Galuzzi, responsável pelo design de alguns modelos da Ducati, incluindo a Monster, assim como na Aprilia, também foi o responsável pelo desenho das Dorso Duro, RSV4, Mana e SL 750 Shiver, além de ter também dado uma “mãozinha” nas últimas Husqvarna. 


 Muito longa e também larga, muito larga, é o que salta logo à primeira vista, existindo porém um equilíbrio perfeito entre o desenho “antigo” e majestoso do enorme propulsor, onde sobressaem as duas enormes cabeças dos cilindros, com tampas em alumínio escovado, soberbamente “abraçados” pelo também enorme, depósito de combustível. Aliás, tudo nesta Custom é grande!


Bem conseguida, também está a junção do desenho do enorme farol dianteiro – a fazer lembrar motos de outros tempos, com os moderníssimos leds da luz diurna (é a primeira Custom do mundo equipada com leds!) que ladeiam a ótica frontal, com o curvilíneo guarda-lamas traseiro, onde as duas fileiras de leds (luz de presença, stop e mudança de direção), parecem querer mostrar que estamos perante uma Custom do presente mas também do futuro. 

Na minha opinião, o desenho do “prato” (painel de instrumentos), podia ser mais feliz. Quando olhado do lugar do condutor, tudo está no seu lugar, mas quando observamos do lado de fora, nota-se que entre o farol dianteiro e o “prato”, existe um espaço vazio, que desequilibra um pouco as linhas perfeitas da California 1400. 
Nada de muito importante, mas… parece que falta ali alguma coisa…

Não é por acaso que a California 1400 é totalmente montada à mão em Mandello del Lario (Como, Itália), sede da Moto Guzzi desde 1921, estando bem à vista o cuidado extremo colocado pela marca italiana tanto na escolha dos materiais, como na sua montagem. 
Quando circulamos por mau piso e ao contrário do que por vezes acontecia nos modelos mais antigos da marca italiana, não se ouvem nem rangidos e nem gemidelas e outros ruídos mais difíceis de catalogar.

Olhando agora para o propulsor, com o tradicional aspeto “old-school” de todos os propulsores Guzzi, podemos ficar com a ideia de que ao nível de tecnologia e performances, este motor não trás nada de novo. Não podíamos estar mais enganados, senão reparem:

- O motor da Moto Guzzi California 1400 é o maior bicilindrico alguma vez construído na Europa, debitando 96 cv às 7000 rpm e um impressionante binário de 120 Nm, logo ali às 2750 rpm!

- É a primeira Custom do mundo a estar equipada com controlo de tração (MGCT).

- É a primeira Custom do mundo equipada com sistema de gestão eletrónica, com escolha de três mapas de entrega de potência diferentes: Turismo (ótimo para o uso diário e viagens), Veloce (quando nos apetece tirar o “carvão” aos dois “canecos”) e o Bagnato (aderência reduzida).

- E ainda… também é a primeira Custom com acelerador “Ride by Wire”!

Nada mal, para uma Custom, pois não? 


Mas o melhor ainda está para vir… pois chega de conversa e vamos ao que realmente interessa:

Sento-me na California 1400 e confesso, o seu aspeto e as suas dimensões avantajadas colocam-me em sentido, apesar de toda a minha experiência de mais de 30 anos a conduzir motos de todos os tamanhos cilindradas e potência. 

Enquanto me vou habituando ao seu peso, movimentando-a, não deixo de ficar encantado com a visão que chega até mim e sei que me vou repetir, mas não faz mal: a forma como o depósito de gasolina envolve o motor, deixando de fora os dois enormes cilindros é, simplesmente genial!


Rodo a chave na ignição, espero, como sempre que a eletrónica faça o respetivo check-up, com o polegar carrego no botão do start (onde também se altera os diferentes mapas da gestão eletrónica do motor) e... um ronco cavernoso explode no ar, enquanto sinto pelo corpo todo, o bater ritmado dos dois enormes “canecos” (104 mm de diâmetro!) de “saia curta”!

Não há dúvida, a California 1400 é uma moto como só uma Moto Guzzi sabe fazer: máscula e viril!


Sim podemos dizer que existem outras marcas e modelos no mercado que também nos transmitem muitas e diferentes sensações mas, acreditem no que escrevo, ao nível de sensações esta Guzzi é única. 

Seja na forma como vamos sentados, pernas abertas, braços esticados – neste caso e para a minha estatura, colocaria o guiador um nada mais baixo, mais perto de mim, pois por vezes o acionamento da embraiagem algo “pesada”, quando virava o guiador tornava-se difícil e cansativo, obrigando a um esforço suplementar ao nível do pulso –, seja pelo inimitável ronco das duas ponteiras, conduzi-la é um ato único, algo especial, sensações únicas que poucas, ou quase nenhuma outra moto nos transmite.

Ao ralenti as vibrações estão sempre (muito) presentes e quando damos um ligeiro toque no acelerador sente-se o corpo da moto a ser puxada para o lado direito: não é defeito, é feitio e característica única dos motores de dois cilindros colocados transversalmente. 

Mas quando engrenamos a primeira velocidade, soltamos a embraiagem e arrancamos, as vibrações desaparecem completamente! 
Nem parece um motor em V transversal, do universo Guzzi. Além disso, nota-se que a injeção eletrónica, faz um trabalho perfeito e que também houve um cuidado especial na escolha das relações da transmissão de seis velocidades, assim como no veio de transmissão, agora com um novo sistema de acoplagem dupla, reduzindo em muito o esforço e desgaste provocado pelas reduções e diminuindo vibrações, algo que se constata, sempre que imprimimos um andamento mais veloz, ao que a California não se nega. 

É a média e principalmente a alta velocidade que este motor Guzzi gosta de circular o que poderá parecer um paradoxo, visto que este tipo de moto, normalmente, não se adequa a um tipo de uso mais, desportivo.

Escolham umas retas, desafiem um amigo que tenha uma moto mais desportiva e podem ter a certeza que o irão surpreender. 

Ou então experimentem arrancar “como deve ser!” num semáforo, desde que à vossa frente tenham algumas centenas de metros de alcatrão:

Primeira velocidade engrenada, acende-se o verde, roda-se o punho do acelerador com decisão e imediatamente sentimos o controlo de tração a fazer o seu trabalho, pois apesar das dimensões mastodônticas do pneu traseiro (200/60 R16) o certo é que este apenas consegue absorver os 120 Nm deste motor, quando o alcatrão é perfeito. 

Depois, bom… agarrem-se com força enquanto vão passando de caixa e ficarão boquiabertos com a forma como esta “locomotiva” ganha velocidade, sempre acompanhada pelo magnífico troar que sai dos dois escapes, colocados um de cada lado da moto.

Sim é uma moto pesada (322 kg em ordem de marcha) e comprida, e isso nota-se, não só parada, mas também em andamento, principalmente dentro das cidades, obrigando a muito trabalho braçal.


Agora esqueçam as velocidades – consegui atingir os 210 km/h com o ponteiro do conta rotações a roçar nas 6500 rpm, com uma margem de 500 rpm, até à entrada no red line e corte do motor, que acontece às 7000m rpm – assumam uma posição descontraída, relaxem os braços e sintam o prazer que é rodar por aí na California. 

De vez em quando deixem “cair” as rotações até sentirem as típicas vibrações do motor quase a “bater” (atenção, eu disse quase!) e depois rodem o punho e usufruam do prazer que é sentir o monstruoso binário da California 1400. 
Dei por mim, a fazer repetidamente o que descrevi atrás, pois é algo único e que agradará por certo, não só aos motociclistas da velha-guarda, mas também aos mais novos, cuja paixão pelas motos passam por este estilo de motos. 

É difícil, mesmo muito difícil, colocar em palavras,  todos os sentimentos que uma Moto Guzzi California 1400 Custom faz sentir e transmite, só mesmo conduzindo uma!


A conclusão a que chego, depois de ser “dono” desta Custom, durante uma semana é que estamos perante uma moto muito especial, uma moto que se destaca inequivocamente de todos os modelos e marcas que existem no mercado... mesmo “dessas” que estão a pensar!

Como aqueles que compram um Van Gogh, um Dali ou um Picasso, quem adquirir Moto Guzzi California 1400 Custom, está a levar para casa uma obra-de-arte!

Informação Técnica

Motor – V-Twin (transversal) a 90º, 4 tempos, 4 válvulas, dupla ignição.

Refrigeração – Ar / óleo. Radiador de óleo com ventoinha controlada através de termostato.

Cilindrada – 1380 cc

Potência – 96 cv às 6500 rpm.

Binário – 120 NM às 2750 rpm.

Alimentação - Injeção eletrônica multiponto sequencial (Magneti Marelli).

Transmissão – Caixa de 6 velocidades.

Transmissão final – Veio de transmissão (duplo cardan).

Travões 
Dianteiro – 2 discos “flutuantes”, pinças Brembo de 4 pistões radiais. 
Traseiro – 1 disco “flutuante”, pinças Brembo de 2 pistões paralelos.

Pneus
Dianteiro – 130/70 R18
Traseiro – 200/60 R16

Depósito de combustível – 20,5 L (5 L reserva)

Peso (em marcha) – 322 kg


Agradecimento

Luzeiro

www.luzeiro.com.pt


Avaliação

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Carlos Veiga 2013



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